1 - A devoção ao Sagrado Coração

Erat ergo recumbens unus ex discipulis eius in sinu Iesu quem diligebat Iesus nnuit ergo huic Simon Petrus et dicit ei quis est de quo dicit itaque cum recubuisset ille supra pectus Iesu dicit ei Domine quis est (Jo 13, 23-25).

Ora, ali estava aconchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem ele amava;  a esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere. Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é? (Jo 13, 23-25).


Primeiro Prelúdio. S. João reclina a sua cabeça sobre o coração de Jesus, para que aí sinta palpitar o amor do Salvador.
Segundo Prelúdio. Este órgão tão unido pelos seus batimentos ao amor do Salvador merece evidentemente uma honra particular.
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Duplo objecto da devoção ao Sagrado Coração: o Coração de carne de Nosso Senhor e o amor do Salvador por nós

I - Isto resulta primeiro das revelações de Margarida Maria. É, de facto, o seu Coração de carne que Nosso Senhor lhe mostra sem cessar, mas chamando sempre também a sua atenção para o seu amor: «Eis este Coração que tanto amou os homens…». Há, portanto, dois elementos nesta devoção: um elemento sensível, o coração de carne; um elemento espiritual, o que recorda e representa este coração de carne. E os dois elementos não fazem senão um, como não fazem senão um, o signo e a coisa significada.
Os autores dizem correntemente que há dois objectos na devoção: um principal, que eles reconduzem ao amor; o outro secundário que é o coração, e isto é verdadeiro. Estes dois elementos são essenciais. Estão unidos como a alma e o corpo estão unidos no homem. Margarida Maria não nos apresenta nunca um sem o outro. É sempre o «coração amabilíssimo e amorosíssimo de Jesus que ela vê e que propõe às nossas adorações» (R.P. Bainvel).

II - O amor do Filho de Deus é o objecto principal deste culto. – É o que dizem muito claramente os teólogos desta devoção. O P. Croiset começa assim a sua obra sobre a devoção ao Sagrado Coração. «O objecto particular desta devoção é o amor imenso do Filho de Deus, que o levou a entregar-se por nós à morte e a dar-se todo a nós no Santíssimo Sacramento do altar». E depois de algumas explicações: «É fácil de ver que o objecto e o motivo principal desta devoção é o amor imenso que Jesus Cristo tem pelos homens, que não têm, na maior parte deles, senão desprezo ou indiferença para com ele».
O P. de Gallifet, àqueles que pretendiam que a festa nova não se distinguisse das outras festas do Salvador, como a da Paixão, do Santíssimo Sacramento, etc.., respondia: «O objecto imediato destas festas não é propriamente o amor de Cristo. Na do Coração de Jesus, ao contrário, o amor de que arde este Coração santíssimo, é o objecto imediato da festa, em união com o seu Coração; de modo que pode dizer-se na verdade que o amor de Cristo pelos homens é própria e imediatamente visado nesta festa». Dizia um pouco mais tarde: «Ninguém pode examinar com um pouco de atenção a natureza desta festa sem ver imediatamente que, sob o nome e o título do Coração de Jesus, se trata na realidade da festa do amor de Jesus, porque esta é a essência do coração de Jesus».
Os documentos oficiais dizem a mesma coisa. «Sob a imagem simbólica do coração, diz o decreto de Pio VI, nós meditamos e veneramos a imensa caridade e o amor liberal do nosso divino Redentor». A oração da festa convida-nos também a meditar nos principais benefícios do amor divino.
Como esta doutrina ilumina bem esta devoção! É a devoção ao amor, à caridade de Cristo.

III - O coração de carne é o símbolo do amor e está tão estreitamente unido à faculdade de amar, que nos dá a ilusão de o tomar pelo órgão mesmo do amor. – O coração de carne é o símbolo do amor. É um facto, é o uso geral de o tomar como símbolo do afecto, da ternura, do amor. Não se diz: «Dou-vos o meu coração», para dizer que vos prometo o meu afecto?
Mas porque foi que a linguagem humana adoptou esta expressão simbólica? É porque o coração está intimamente ligado aos movimentos dos nossos afectos. Quando amamos verdadeiramente, o nosso coração bate mais forte, sob a pressão de um sangue mais quente e mais vivo. O coração comporta-se como se fosse o órgão dos afectos. Mas não é o órgão principal, diz-nos a ciência. Seja! Mas está bastante ligado a todos os seus movimentos para que a linguagem humana tenha podido instintivamente tomar o seu nome para designar o órgão do amor.

Honrando o Sagrado Coração de Jesus, honramos, portanto, principalmente o amor do Filho de Deus e secundariamente o coração de carne que está tão intimamente unido a este amor para ser chamado familiarmente o seu órgão e o seu símbolo.
Quando S. João quer unir-se ao amor de Jesus, que gesto faz? Apoia a sua cabeça sobre este coração que bate por ele com um amor tão terno e tão forte.
Qual não é a nobreza deste coração de carne, que esteve unido com todos os seus batimentos aos afectos, às alegrias, aos sofrimentos do Homem-Deus!

Resoluções. – A minha natureza que é mista aplica-se mais facilmente a um objecto que é misto como ela. Compreenderei melhor o amor do Salvador considerando-o no seu Coração de carne.
Obrigado, ó Jesus, por me terdes revelado devoção tão tocante, quero aplicar-me a ela vivendo em união com o vosso divino Coração.


Meditações do Venerável Leão Dehon
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