Oh Admirabile commercium!
Seminarista Deoni Alexandrino da Silva
«O admirabile commercium! Creator generis
humani, animatum corpus sumens de Virgine nasci dignatus est; et, procedens
homo sine semine, largitus est nobis suam deitatem». – «Oh admirável permuta! O Criador do género humano, tomando
corpo e alma, dignou-Se nascer duma Virgem; e, feito homem sem progenitor
humano, tornou-nos participantes da sua divindade!» (CEC 526).
Esta é a verdade do que celebramos
na noite de Natal! Ó admirável comércio, ó admirável consórcio, ó admirável
permuta de Deus com a humanidade. Ele se faz homem, se rebaixa a condição de
escravo (cf. Fl 2,7), vive a nossa vida, prova a nossa limitação, para que nós,
pequenos que somos pudéssemos ser elevados à condição de senhores, viver a vida
divina e provarmos a glória que provém Dele.
Assim sendo, o Natal não é a
simplória comemoração do aniversário de Jesus, nem tampouco uma recordação
saudosista de um fato histórico, mas é a contemplação de um mistério, a
Encarnação, a qual nos remete a um silêncio perturbador e confiante, que brota
do contato com este acontecimento vivo e atual na vida da Igreja.
Até aqui não vimos nada de novo.
Esta verdade foi proclamada, anunciada, celebrada ao longo de quase dois mil
anos, graças a Deus! O grande problema, porém, que atinge todos os cristãos,
bem como toda a humanidade, sobretudo a sociedade contemporânea, é o fato de
nos acostumarmos com as coisas, de cairmos na rotina e perdermos a profundidade
daquilo que nos cerca. Os primeiros filósofos trilharam seu caminho de amor a
sabedoria no observar a beleza e a verdade da Criação; e ao realizar isto seu
desejo da verdade crescia cada vez mais. Eles não se conformavam com as
superficialidades da Criação, mas buscavam a fundo seu significado. E isto, segundo
Platão, se dava pela “admiração” que estes homens sentiam de tudo aquilo que os
cercava. Deixamos de praticar ao longo dos anos o “ato de admirar”, pois não
temos tempo para dar atenção demasiada a isto ou aquilo, a vida corre acelerada
e o vai-e-vem do cotidiano nos impede de perdermos tempo com o que consideramos
bobagens. Deixando de admirar perdemos a grande graça de contemplarmos a beleza
da ação de Deus no mundo, e nos tornamos frios e superficiais.
Esta tal admiração brota do nosso
encontro com a grandiosidade daquilo que observamos, como, por exemplo, a
criança que se depara com algo até então desconhecido por ela e que na alegria
de ter tido esta experiência faz de tudo para conhecer melhor o objeto experimentado.
Esta admiração vai embora quando nós, cheios de orgulho e de um sentimento de
onisciência, pensamos não ter mais nada neste mundo que nos pareça novo. Por
isso, muitos de nós cristãos perdemos a admiração pela grande verdade
vivenciada no Natal: Deus se faz homem e vive a nossa vida para que nós também
vivêssemos a vida Dele. Isto para muitos se tornou uma verdade abstrata que
nada diz à sua existência. Até perderam a grandiosidade do que ela significa.
Como Deus em sua onipotência se
faz um mísero homem? Aceitar esta verdade não foi algo pacífico no tempo de
Jesus; muitos não acreditaram. Falaciosamente poderíamos nos perguntar: e se
tivéssemos vivido naquele tempo, teríamos acreditado nesta verdade? Como a
história não é estudada pelas hipóteses, mas pelos fatos, esta pergunta não tem
validade em si mesma. Isto, porém, não nos impede de indagar: como nos
relacionamos com esta verdade? O que ela diz a nossos corações? O que ela muda
em nossas vidas? As respostas a estas perguntas são pessoais e devem brotar do
encontro com esta verdade.
Assim, na noite de hoje, noite
silenciosa, como nos sugere a versão em inglês da música noite feliz, o espanto
deve tomar conta de nossos corações, a admiração deve tomar o nosso ser e,
neste silêncio sagrado, devemos contemplar este grande mistério de amor para
podermos exclamar: Ó admirável permuta! Ó noite feliz! Glória a Deus nas
alturas e paz na terra aos homens por Ele amados! E assim, deixarmos que o
grande Amor de Deus por nós dê significado e mude o rumo de nossas vidas.
Vivamos este Santo Natal de Nosso
Senhor buscando nos admirar com este grandioso Mistério do Amor de Deus por
nós.
Um Santo e Abençoado Natal a
todos.
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