Foge, fica em silêncio e reza sempre
Foge, fica em silêncio e reza sempre
por Rener Almeida Costa
Estas 3 expressões resumem a chamada Espiritualidade do
Deserto, espiritualidade esta vivida por monges e monjas a partir do século IV
e que tinha como fundamento a solidão, o silêncio e a oração. Mas será que ela
tem algo a oferecer a nós, homens do século XXI?
Foge.
A solidão para muitos de nós hoje é confundida com
privacidade. Imaginamos que solidão significa estar sozinho em um ambiente onde
ninguém poderá nos perturbar, de modo que ali nos dediquemos somente a nós
mesmos. Ao contrário, os monges do deserto viam a solidão como a cela da
conversão, da morte do homem velho e do nascimento do homem novo, ou seja,
condição para que aprendamos a amar.
É na solidão, na ausência dos amigos, do celular, das distrações, das músicas,
dos compromissos que nos encontramos com nós mesmos e percebemos o quanto somos
feridos e miseráveis; aprendemos a ver que os nossos defeitos não são menores
do que os dos outros. Somente esta consciência da nossa indigência e do nosso
NADA é que nos fará encontrarmos com o TUDO em Deus
Fica em silêncio.
O mundo de hoje é marcado pela tagarelice. A todo momento
nosso imaginário é disperso por coisas que lemos na rua, na internet, por
músicas que ouvimos ou por conversas frívolas que temos. A tagarelice distrai
nossos pensamentos do Senhor e nos afasta de nosso centro, o “lugar” onde
habita o Espírito Santo. Somente com a atenção voltada ao nosso centro é que
seremos dóceis às inspirações do Espírito e progrediremos em nossa vida
espiritual.
O silêncio é o ato que nos permite estarmos sempre voltados a este centro. Ele
guarda o nosso fogo interior e dá fecundidade às nossas palavras. Desse modo,
nossas palavras nos aconselhamentos, pregações e atividades pastorais terão uma
força muito maior, pois elas não virão de qualquer lugar, mas sim do lugar onde
Deus habita.
Reza sempre.
Solidão e silêncio só são realmente fecundos quando nos
levam à “Oração do Coração”.
Estamos acostumados em nossa Lectio Divina a meditarmos a palavra e logo depois
já registrarmos nossas observações em um Diário Espiritual. Acontece que
esquecemos que o principal objetivo da meditação é abrir as portas à
contemplação. Nesta, nosso coração se une ao coração de Deus e se torna grande
o bastante para abarcar todo o universo, todos os conflitos e misérias humanas,
todos os nossos problemas e os do próximo. Na contemplação, nossa oração desce
da mente para o coração.
E como se faz a Oração do Coração? O padre Henri
Nouwen em seu livro “Caminho do Coração” nos dá uma disciplina com 3
características:
1)
A oração do coração alimenta-se de orações
breves e simples;
2)
A oração do coração é incessante;
3)
A oração do coração inclui tudo.
Resumindo: devemos nos retirar em alguns momentos durante o
dia para estarmos a sós e em silêncio com Deus. Nesses momentos, devemos rezar
meditando e repetindo pequenas frases ou até mesmo palavras retiradas das
Sagradas Escrituras como “o Senhor é meu pastor”, “Jesus”. A razão disto é que
quando nos perdemos em muitas palavras durante a oração, nossa mente fica
sujeita à fantasia e dissipação, mas quando nos concentramos em pequenas e
simples palavras, fica mais fácil centrar nossa atenção em Deus.
Nestes momentos de solidão com Deus plantamos a semente da oração em nosso
coração e ao longo de todas as demais atividades do nosso dia cultivaremos esta
mesma semente, de modo que a oração nos forneça um alimento incessante para a
alma. Assim, estando sempre em oração, todos os nosso acontecimentos do dia
serão unidos ao coração de Deus.
Silêncio, solidão e oração são os caminhos propostos pelos
santos, de forma especial pelos que viveram no deserto, para quem busca uma
vida de perfeição. E hoje, a Igreja mais do que nunca, necessita de santos.
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