Reflexões sobre o Amor (10)
A
celebração do próximo domingo coloca-nos ao menos uma questão que toca todas as
buscas humanas: o drama de realizar-se apesar das sombras cotidianas como um
autêntico exercício de liberdade; aqui, recordo-me de que certa vez escutei
Camelo e Dominguinhos tocar e cantar: “Perceber aquilo que se tem de bom no
viver é um dom”, interessante aqui, que tal trecho é o primeiro movimento da
“Liberdade” (título da música em questão) porque no outro extremo está a
sequência: “É, Deus, parece que vai ser nós dois até o final” e isso
permite-nos compreender que tal elasticidade demanda uma capacidade de escapar
com maturidade diante da pergunta que nos aflige sob o véu da nossa correria:
“De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam
debaixo do sol?” (Ecl 2, 22). Nesse espaço existencial se projeta a veracidade
da profundeza do ser e que é propriamente a pedra de toque dos projetos
contemporâneos: a liberdade – tão cantada nas ruas das cidades francesas em
1789 e que acabaram ganhando o mundo demonstra que o homem almeja realizar-se,
mas o caminho está para além de um esforço político, antes e sobretudo,
trata-se de responder com a vida á partir do “desejo de Deus que está inscrito
no coração do homem” (Catecismo, 27) e somente assim, a liberdade pode ser um
belo canto que brota do dueto fundamental “verdade-felicidade” formando um trio
distinto do “liberdade, igualdade e fraternidade”, mas que podem ser
articulados. Não bastasse, o homem da “Liberdade” se debate: “De que vale ser
aqui. Onde a vida é de sonhar?” (3ª estrofe) e o homem de “Lucas” fica
indiferente: “Descansa, come, bebe, aproveita!” (12, 19), ambos têm em comum
uma segurança que as traças e as ferrugens consomem com o tempo devido ás suas
inconsistências (Mc 6, 20): indiferença diante da verdade e uma felicidade
pautada no conforto proveniente dos bens. Mas, mais uma vez, deixemo-nos
alcançar pela força da Reprimenda que atualiza-se em nossas vidas: “Mas Deus
lhe disse: ‘Louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem
ficará o que tu acumulaste?’” (Lc 13, 20); assim perceber o que se tem de bom
na vida é verdadeiro dom se deixarmos Deus permanecer conosco até o fim, uma
vez que um autêntico exercício de liberdade está estreitamente ligado a
felicidade e “A felicidade que procurais, a felicidade a que tendes direito
(...) tem um nome, um rosto: é Jesus de Nazaré.” (Papa Bento XVI, 18/08/2005).
Ótimo domingo!
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